Não, não é uma gralha! Não, não lhe estamos a sugerir sair
por aí sem roupas! Estamos só a sugerir que hoje, durante algum tempo, não faça
nada. E quando dizemos nada é mesmo absolutamente NADA.
Pensa que é fácil? Pense duas vezes, experimente uma, e vai
ver que é mentira. Não há nada mais difícil do que não fazer absolutamente
nada.
Em primeiro lugar porque é absurda a quantidade de coisas
que somos obrigados ou que nos obrigamos a fazer todos os dias, desde que
acordamos até voltar para a cama. Não são só as obrigações profissionais, ou
parentais. É, também, tudo aquilo que achamos que temos de fazer, ou que
devemos fazer, para sermos mais saudáveis, mais felizes, mais preenchidos,
mais, mais e sempre mais.
Depois, vivemos numa sociedade que condena quem não alinha
no ritmo alucinado do empreendedorismo, da ambição, da corrida para chegar ao
topo, para descobrir a pólvora, para fazer milhões. Que ostraciza quem se
manifeste satisfeito por estar onde está e não sentir necessidade de ir mais
longe profissionalmente.
Que olha de soslaio quem nunca viajou por esse mundo fora,
coleccionando carimbos no passaporte, porque se sente bem a passar as férias na
praia mais próxima ou, até, na varanda ensolarada do apartamento onde vive.
Que sorri, condescendente, e apelida de 'cromos' os que não
usam as roupas da moda, têm carros com vinte anos e telemóveis com dez, e
continuam a só fazer comprar na mercearia velhinha da esquina.
E, como se tudo isso não bastasse, ou, por causa de tudo
isso, ainda temos um soldadinho interior que nos faz sentir uma imensa culpa
sempre que não estamos a fazer nada. Como se estivessemos a deixar que a vida
nos passe ao lado, a perder uma qualquer oportunidade extraordinária de
fazer/ter/viver/descobrir qualquer coisa que pode ser importante.
Por tudo isto, e porque Marcelo Bohrer teve um esgotamento
nervoso e decidiu que era chegada a hora de fazer uma pausa, foi criado o Clube
de Nadismo - um movimento que reune pessoas em locais públicos, geralmente
parques e praças com belos relvados, para não fazerem absolutamente nada
durante um período de tempo determinado (45 a 60 minutos, geralmente).
O segredo está na simplicidade da coisa, que não requer
técnica, nem postura especial, nem nada de coisa nenhuma para além de estar
quieto, parado, sem fazer nada, e, também, no facto de serem encontros
realizados periodicamente (uma vez por mês), marcados com antecedência, o que
nos permite marcar na agenda uma data e uma hora para NÃO FAZER ABSOLUTAMENTE NADA.
Pode descobrir mais sobre o movimento nesta entrevista com o
seu fundador, ou visitar o site ou a página de Facebook e, quem sabe, tornar-se embaixador do nadismo
em Portugal para organizar um primeiro encontro.
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