terça-feira, junho 03, 2008

Vozes de ontem


Photo by Leo Reynolds @ flickr.com

Todos os anos, no dia 1 de Junho tenho por hábito telefonar a uma ex-colega de trabalho para lhe dar os parabéns. Um hábito que começou já nem sei bem há quanto tempo, mas que repito com o maior prazer ano após ano. Curiosamente, não sou, nem nunca fui, particularmente amiga da pessoa em questão. Ela era a recepcionista e telefonista da empresa onde comecei a trabalhar (numa época em que as empresas ainda tinham uma voz, e todas as chamadas dentro da empresa, de entrada ou de saída, passavam por ela) e o nosso relacionamento era breve mas razoavelmente bem disposto. Sempre admirei a paciência que era preciso ter para estar um dia inteiro atrás de uma secretária (inicialmente era mesmo dentro de um cubículo) interagindo com dezenas de pessoas por dia e sendo ignorada pela esmagadora maioria. Talvez por isso, fui sempre particularmente simpática com ela, e quando saí dessa empresa para novos vôos, a Antonieta continuou a ser a voz do meu início de carreira.
Passaram já muitos anos, ela já se reformou, a dita empresa passou por mais de meia dúzia de nomes e de grupos económicos, dos cento e tal empregados da altura restam cinco ... mas os anos da Antonieta continuam a ser no dia 1 de Junho, e eu, talvez por fazer anos neste mesmo mês, nunca me esqueço, e ligo-lhe sempre, no próprio dia, ou no dia da semana mais próximo. Este ano não foi excepção. E lá estava, do outro lado, a voz ainda fresca que todos os dias me dava as boas-vindas, e a memória auditiva que faz com que me reconheça a voz, ainda hoje, às primeiras (poucas) palavras.
São engraçados estes laços que vamos tecendo com as pessoas que nos cruzam a vida, e acabam por vir a ocupar lugares surpreendentes. É que, se é verdade que os papéis principais (que reservamos a pais, filhos, familiares e amigos próximos) são fundamentais, estes papéis secundários, estas figurações ou participações especiais, especialmente curtas, que apenas ocuparam curtos momentos nas nossas vidas, são, afinal, fundamentais para nos ajudarem a estabelecer as coordenadas de quem fomos, por nos ajudarem a situar-nos no eu que hoje somos, por nos acompanharem, ainda que à distância, no caminho que vamos percorrendo.
Como conclusão, e porque o meu objectivo principal neste blog é inspirar-vos momentos positivos, aqui fica a sugestão: lembrem-se das pessoas que vão ficando para trás, nas vossas vidas, e liguem de vez em quando. Não necessariamente para uma conversa passada no passado, mas só para dizer olá. É sempre engraçado visitar quem fomos através da memória que deixámos nos outros.

2 comentários:

Vida de Praia disse...

Obrigada pela sugestão - e adorei o teu relato: adoro tecer e fortalecer laços! Não sou muito de telefonar (detesto falar ao telefone), prefiro uma carta, mail ou sms uma vez por outra.

Cláudia disse...

eu tb. faço aniversário neste dia...curiosamente fui atendente em uma empresa e super pacienciosa...e curiosamente um cliente me liga todos os anos...
coincidencias...
beijos